Desafios da Manufatura Aditiva no Brasil e a necessidade de uma estratégia nacional

De tempos em tempos publicamos posts sobre o trabalho pioneiro e fundamental exercido pelo CTI Renato Archer, em Campinas, sob a coordenação do Dr. Jorge Silva no que se refere à Manufatura Aditiva no país. Não é para menos: Dr. Jorge está à frente do CTI desde que fundou o DT3D, a Divisão de Tecnologias Tridimensionais do instituto, em 1997, da qual é Diretor até hoje. Pouca gente sabe, mas o local é aberto ao público, mesmo porque, trata-se de um órgão vinculado ao MCTIC do governo federal (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). 

Então se você ainda não conhece o CTI Renato Archer, e deseja saber o que vem sendo feito por lá em termos de inovação e tecnologia aplicada para o Brasil como um todo, vale fazer uma visita para conhecer o local. Ou, se você preferir, também pode acompanhar tudo pelo 3DPrinting: recentemente, por exemplo, estivemos no Workshop de Manufatura Aditiva organizado pelo CTI em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP (IPT), onde foram debatidas as “Tendências, novos mercados, e a necessidade de uma estratégia nacional em Manufatura Aditiva” para o país.

Ao lado de João Batista Ferreira Neto, pesquisador do IPT, Dr. Jorge Silva abriu o Workshop de Manufatura Aditiva, realizado em 13 de março na sede do IPT/USP, em São Paulo, falando sobre as perspectivas para a introdução da tecnologia de Manufatura Aditiva (MA) – popularmente conhecida por impressão 3D – no processo produtivo industrial brasileiro. “Estamos reunidos aqui para o início de uma ideia de se construir algo maior no Brasil, que seja uma política nacional de manufatura aditiva, porque nós estamos ainda muito atrasados nisso”, desabafou o cientista em sua fala na abertura do evento.

Normas e oportunidades de mercado promissoras

Dr. Jorge conta que a primeira normatização em MA ocorreu nos EUA por iniciativa da Standard Terminology for Additive Manufacturing Technologies (ASTM), que posteriormente uniu-se à ISO para estabelecer normas de segurança e qualidade em processos envolvendo tecnologias de impressão 3D. Muito embora essas tecnologias estejam evoluindo rapidamente nos países mais desenvolvidos do mundo, como Estados Unidos e Alemanha, apenas 0,043% dos processos são realizados por MA no mundo atualmente, quando comparados com processos envolvendo a manufatura convencional. Em termos de investimento, para se ter uma ideia, o mercado de MA movimentou cerca de US$ 5,2 bilhões no ano de 2015, frente a US$ 11.994 trilhões (sim, trilhões mesmo!) da manufatura convencional, de acordo com dados do Banco Mundial.

A fabricação de aparelhos auditivos saltou de 20% para 100% de dispositivos fabricados exclusivamente por tecnologia de impressão 3D em apenas 4 anos. Isso deslanchou todo o mecanismo de produção de materiais, máquinas e processos

Que não se engane, contudo, quem pensa que a manufatura aditiva não irá pouco a pouco equilibrar e possivelmente transformar por completo esse cenário. Afinal, trata-se de um processo de produção em massa com alto nível de personalização, algo totalmente inédito na indústria como a conhecemos. Um exemplo é a fabricação de aparelhos auditivos, que saltou de 20% para 100% de dispositivos fabricados exclusivamente por tecnologia de impressão 3D em apenas 4 anos. “Isso deslanchou todo o mecanismo de produção de materiais e máquinas, processos e controle desses processos”, conta Dr. Jorge Silva. Com isso, talvez você esteja se perguntando: quais poderiam ser os outros setores transformados diretamente pelas tecnologias de impressão 3D? Pois bem: esse é o desafio atual do cenário econômico brasileiro.

Dr. Jorge acredita que já exista uma massa crítica no Brasil capaz de fomentar o crescimento no setor, principalmente no que se refere a um maior envolvimento por parte da indústria. Áreas como Ecologia, Psiquiatria, Psicologia e Matemática estão dentro da média mundial e são áreas onde o Brasil poderia emergir como líder potencial. Aumentar a colaboração entre setores da indústria doméstica e da academia proporcionaria um benefício econômico no desenvolvimento de manufaturas de alta tecnologia – uma abordagem que já é fundamental para a estratégia de política científica do governo.

Assista à íntegra da palestra do Dr. Jorge Silva na abertura do evento:

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